terça-feira, 10 de agosto de 2010

Eleições 2010

Análises e opiniões sobre a entrevista de Dilma no Jornal Nacional, da Globo:

João Bosto Rabello, de O Estado de S. Paulo "
"O tempo é curto e, nesse sentido, reproduz o defeito dos debates: o candidato é atropelado por uma segunda pergunta antes de concluir a resposta à primeira. A boa notícia para a candidata Dilma Rousseff é que o critério será igual para os adversários que lhe sucederão a partir de hoje na bancada do Jornal Nacional.
A má notícia é que não conseguiu produzir boas respostas para velhas perguntas. Confrontada com reclamações ao seu estilo no governo – onde era acusada de maltratar subalternos – atribuiu – o à necessidade de cobrar metas e resultados. Rejeitou o presidente Lula como seu tutor, mas adotou suas respostas ao justificar as más companhias do partido nas alianças eleitorais: o poder amadureceu o PT. Donde se conclui que aliados como José Sarney, Fernando Collor, Jader Barbalho, entre os citados pelo apresentador William Bonner, representam evolução política.
E culpou o governo FHC pelo Brasil não crescer no governo Lula a taxas maiores que os vizinhos Uruguai e Bolívia, mais Índia e China."

Merval Pereira, em O Globo:

"Os partidos que apoiam a candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff respiraram aliviados depois do debate da TV Bandeirantes. Na análise interna, a candidata inventada pelo presidente Lula havia passado por todos os testes na pré-campanha eleitoral: contato com o eleitor nas ruas, negociações políticas com os aliados nos estados, e erros corrigidos nos primeiros momentos da propaganda pela internet.
Faltava saber como se sairia num debate ao vivo com os demais candidatos, mesmo que a audiência fosse pequena.
A avaliação entre eles foi de que Dilma passou também nesse teste, não por ter ido bem no primeiro debate, mas por não ter sido o desastre que alguns temiam. "O empate foi bom para ela", avaliou o deputado Henrique Eduardo Alves, um dos principais líderes do PMDB.

Mesmo quando confrontado com a opinião generalizada de que o candidato da oposição, José Serra, vencera o debate na verdade, Henrique Eduardo Alves comentou: "Mas não foi uma derrota por nocaute, longe disso".
A mesma coisa pode-se dizer da participação da candidata oficial na bancada do Jornal Nacional ontem à noite, abrindo a série de entrevistas com os principais candidatos à Presidência da República.
Ao contrário do debate da Bandeirantes, Dilma Rousseff não gaguejou e foi bastante assertiva nas suas respostas, e só errou uma vez, quando colocou a Baixada Santista no Rio de Janeiro.

O problema é que disse uma série de inverdades, que passaram como fatos para os telespectadores.

Por exemplo, quando afirmou que os investimentos em saneamento na favela da Rocinha, dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) representam uma mudança de comportamento do governo federal.

Simplesmente, na Rocinha, não há nenhum investimento do PAC relativo a saneamento.

A candidata oficial também distorceu os fatos quando disse que o presidente Lula, ao assumir o governo, encontrou a inflação descontrolada.

Pura verdade, só que a explosão da inflação deveu-se ao "efeito Lula", isto é, ao temor dos mercados de que Lula vitorioso aplicasse tudo o que defendia e não mantivesse o rumo da economia.

Como ele fez justamente o contrário do que prometia, tudo voltou aos lugares.

A admissão de que o PT amadureceu no governo é uma maneira de fugir da acusação de incoerência, ao manter hoje alianças políticas com seus antigos adversários políticos.

E a metáfora da mãe cuidando da família ministerial, sendo dura quando é preciso para fazer as coisas andarem, é recorrente na candidata, e embora revele uma pobreza de visão política, pode ser eficiente em termos eleitorais."

Reinaldo Azevedo, em seu Blog na revista Veja:
"Escrevi ontem, para protestos de alguns, que a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, teve um bom desempenho no Jornal Nacional. “Bom desempenho”, evidentemente, não significa concordância com algumas das barbaridades que ela disse. Significa apenas que, para quem tinha vindo do desastroso debate da Band, ela se segurou bem. Mais: parte das perguntas de William Bonner e de Fátima Bernardes, e não estou inferindo compadrio, foi útil para a candidata. No texto de ontem, expliquei por quê. Ela utilizou com razoável desenvoltura o que aprendeu no treinamento intensivo que vem fazendo. Talvez já dê para extrair uma regra: é a presença dos adversários, em especial do tucano José Serra, que a desequilibra. Por isso, sempre que pode, foge do efeito comparação.

A minha análise limitou-se ao efeito que pode ter tido a entrevista. Meu compromisso com os leitores é a verdade — dizendo sempre o que penso. Acredito que o resultado tenha sido positivo para ela, o que não quer dizer que suas respostas resistam a um confronto com os fatos. Mas quantos vão examinar no detalhe o que ela disse? Dilma explicou assim a aliança do PT com patriotas como Jáder Barbalho, José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor:
“Acho que o PT não tinha tanta experiência, sabe, Bonner?, eu reconheço isso. Ninguém pode achar que um partido como o PT, que nunca tinha estado no governo federal, tem, naquele momento, a mesma experiência que tem hoje. Acho que o PT aprendeu muito, mudou, porque a capacidade de mudar é importante.”

Submetida a sua resposta ao apuro lógico, ficamos, então, sabendo que o PT só repudiava aquelas flores da política brasileira por… falta de experiência. Quando ficou mais sabido, resolveu se aliar a esses professores de educação moral e cívica. Entende-se ainda, de sua resposta, que foi esse notável encontro que garantiu as conquistas sociais que ela elencou no programa. É uma sandice, um despropósito? É, sim!
Cassetete e MST
Todos sabem que a arruaça promovida pelo sindicato de professores da rede oficial de ensino em São Paulo contou com o irrestrito apoio do PT. Sua comandante foi Bebel, a presidente da entidade, que estivera num encontro eleitoral com Dilma um dia antes das manifestações de rua. A greve atingiu 2% ou 3% da categoria, mas os tontons-maCUTs se organizaram para o confronto com a polícia. A manifestação foi tão escancaradamente eleitoral que a moça foi multada pelo TSE. Pois bem, Dilma aludiu ontem àquele confronto claramente orquestrado — é um método: provocam o enfrentamento para depois lamentá-lo — dizendo que ele não trata movimento social com cassetete. Muito bem. Era a hora, acho, de encaixar uma boa questão: e botar na cabeça o boné do MST, que destrói plantações, mata o gado, depreda fazendas? Isso pode? Qual é a função do poder público? Manter a ordem ou incentivar a desordem? Sem contar que não seria descabido indagar se Dilma acha legítimo que um partido se associe a um sinidcato para combater um governo de estado.
Num dado momento da entrevista, Dilma, que havia feito o elogio das alianças com Sarney e Collor, afirmou que Lula chegou ao governo com a inflação fora do controle, o que é, obviamente, uma piada. Inflação descontrolada, aí sim, era aquela das gestões Sarney e Collor, os aliados de agora. FHC? Ora, foi o homem que debelou a inflação na contramão da militância petista, que se opôs ao Plano Real e a algumas das medidas que foram pilares da estabilidade, como a Lei de Responsabilidade Fiscal. Caberia lembrar tais incoerências?
Questões espinhosas como os dossiês contra Serra; a relação com o Irã; as gritantes deficiências de infra-estrutura do país, especialmente aeroportos, portos e estradas federais; o inchaço da máquina pública; o caso Lina Vieira; a explosão de gastos com custeio, tudo isso ficou de lado. Dez minutos, em TV, é tempo pra chuchu, mas muito pouco se considerarmos a quantidade de coisas que cabe a um candidato responder. Acho que essa pauta seria melhor do que aquela porque diz respeito ao aporte ético do governo a que Dilma promete dar continuidade e ao futuro do país. E não estou me pondo como juiz da entrevista conduzida por William e Fátima. Lembro apenas que há questões com as quais a petista ainda tem de ser confrontada na TV, inclusive nos debates — por jornalistas e pelos seus adversários."

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